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Seu novo amante

     Mariana descobriu o amor tarde. Ele demorou a chegar, mas, como é frequente em todos os romances, prometeu que nunca a deixaria. Era o tipo de paixão que apenas crescia; a cada dia se tornava mais visceral, mais inevitável. Não demorou para que se tornasse seu último recurso quando fechava os olhos, a primeira esperança quando ela acordava. Seus cabelos já estavam brancos, e as rugas chegavam a desafiar sua memória quando encarava o espelho. Ele não se importava. Ele a abraçava exatamente como era.

     Fazia questão de encher seus pensamentos com lembranças de tempos atrás, sussurrando histórias de como poderia segurá-la em seus braços quando ela ainda usava fraldas e não havia conhecido os horrores do mundo, como podia protegê-la de todos os momentos que Mariana desejou esquecer. 

     Sua família não o aprovava. Seu filho mais novo parecia ter ciúme; o mais velho já tinha desistido. Iam

e vinham, como seu marido. Ah, sim, às vezes, O amante o trazia para que Mariana pudesse desfrutar mais uma vez das longas conversas que pareciam pertencer a outra vida. Seu marido, Matheus, não tinha ciúmes; estava feliz que a mulher havia encontrado a paz mais uma vez, mesmo que longe de seus braços.

     Matheus. Mariana repete o nome em sua mente mais uma vez, lembrando-se de ver as letras escritas em seu túmulo. O de seu novo amante, por sua vez, ela achou estranho.

    Alzheimer, os médicos diziam.

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* Maya Linck é estudante de Relações Internacionais e mora em Laranjeiras.

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