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Trump: a loucura e o método

     Quando Mussolini e Hitler surgiram, oposicionistas divertiam-se em explorar os aspectos histriônicos de suas personalidades. Charles Chaplin explorou o veio em O grande ditador, um clássico no desvelamento da dimensão ridícula do autoritarismo do fuhrer do nazismo. O Duce italiano teve a mesmo destino na caricatura de sua mímica e expressões faciais. A ironia revelou as fraquezas e as contradições daqueles líderes autoritários e ensandecidos.

     Entretanto, como dizia um personagem de Shakespeare, por trás daquela loucura havia um método – que visava conquistar o mundo pela força militar em proveito da raça alemã e, em particular, dos capitais monopolistas: Siemens, Krupp, Thyssen, IG Farben, entre outros, cujos negócios sobreviveram às aventuras guerreiras, prósperos e poderosos até os dias de hoje.

     Algo semelhante tem acontecido agora com o presidente dos EUA, Donald Trump. A arrogância, as sandices, a prepotência, as caretas e os trejeitos faciais, o desrespeito aos interesses e às opiniões dos interlocutores, o “faço porque posso”, a compulsão em se desdizer e em mentir sem pudor, recorrendo a realidades paralelas e a fatos alternativos, o ridículo topete laranja, análogo ao bigodinho de Hitler e às caras-e-bocas de Mussolini, gestos e atitudes que reatualizam a trajetória enlouquecida dos líderes autoritários dos anos 1920-1930. Mas, ainda desta vez, na loucura há método.

     Para o Trumpismo, trata-se de inverter o declínio da potência e da supremacia estadunidenses, de retardar a afirmação de um mundo multipolar e à alteração da correlação de forças internacionais que se impuseram nos últimos setenta e cinco anos. Trata-se ainda de canalizar os ressentimentos dos que se sentem marginalizados pelos efeitos da grande revolução científica e tecnológica em curso e que anelam por soluções simplistas e bodes expiatórios. Mas não é só na nostalgia do passado que se baseia o trumpismo. O que lhe confere substância é o apoio dos grandes capitais monopolistas, em especial dos monopólios dos meios de comunicação, entre outros, Alphabet, Amazon, Apple, Meta e mais a Tesla do presunçoso Musk. Estas empresas não têm compromissos com o passado, mas pretendem encarnar o futuro. 

     Um futuro sem regulamentações, sem limites, desfazendo-se a utopia que imaginava a internet como espaço democrático. Os proprietários destas empresas estavam na posse de Trump, e antes dela, no financiamento de suas ambições. São estas grandes companhias monopolistas que constituem o ventre fecundo que gerou Donald Trump. E é na defesa de seus interesses que reside o método na loucura de Donald Trump.m e

 

* Daniel Aarâo Reis é historiador e cidadão da República.

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Os barões da tecnologia tiveram destaque na posse de Donald Trump: Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezzos e a companheira (Amazon), Sundar Pinchai (Google) e Elon Musk (X e Tesla).

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