
Jornal colaborativo, não-oficial e democrático da República Independente de Laranjeiras
Edição # 13
Às vezes sou meio muito. Tenho total consciência da esporádica pequenez da minha modéstia. Mas pô, Caetano jovenzinho já dizia: “Não me acho modesto. E não digo isso por modéstia. Eu me acho simplesmente maravilhoso." Neste quesito, confesso, sigo o relator.
O amor próprio não é escolha. É necessário. Somos os únicos responsáveis por nossa existência. Gerar energia, brilhar, é da nossa essência. Como é das estrelas. Claro, isso vem com o tempo. A maturidade relativiza as coisas, ensina a sermos o bastante para nós mesmos. A precisar de pouco para ficar de boa. Não necessariamente feliz, mas tranquilo. É o momento em que a gente entende que também pode ficar triste e exausto. E ok! Porque percebemos que tudo é transitório, percebemos a impermanência. Das coisas e da vida.
Maturidade traz também seletividade. Escolhemos o que vale a pena consumir, onde vale ir, que relações merecem nosso tempo. Aprendemos a curtir cada tempo. Cada pequena coisa. O que eu tô dizendo é que os finalmentes são incríveis, mas o percurso também é. Ou: pinto na xereca é ótimo, mas valorize a curtida. Valorize a olhada. Você pode retrucar e dizer que não aceita migalhas. Eu sou da vibe cazuzesca do "raspas e resto s me interessam". Porque sou também aquela que desova os restinhos da geladeira. Consumo consciente. De comidas, coisas e afetos.
Muitas vezes somos ávidos demais. Queremos tudo e muito. E o devagarinho pode ser tão bom... o velho ditado "de grão em grão a galinha enche o papo", sabe? Talvez seja complexo entender meu jeito zen e tranquilo do "menos é mais", do "tô viva, tá bom", do "o que vier é lucro".
Tem quem diga que é uma positividade tóxica. Até concordo, talvez eu seja condescendente demais. Mas é real da minha índole ser compreensiva. Uns dirão: trouxa, otária. Eu digo: do bem.
"Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais"
* Saúde - Rita Lee
* Juliana Coutinho é publicitária, mora em Laranjeiras, é flamenguista, tem duas filhas e, ah, é deficiente física também.
