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Diário de Sansa

O super reclamão

     Deixa eu contar a história direito, para depois ele não vir com reclamação para o meu lado. Ele, óbvio,

sempre foi um reclamão, mas quando foi atropelado na faixa de pedestres na frente do Zona Sul por um carro que - como sempre reclamava - não deu preferência aos pedestres, seus poderes se manifestaram de verdade. Desde aquele acidente, mesmo que a gente continuasse o achando chatíssimo, não conseguimos mais discordar das suas reclamações. Os motoristas que não paravam na faixa mereciam ser banidos da região? Claro, depois do que aconteceu, quem podia dizer que não? A seleção, mesmo ou justamente por estar trazendo um gringo como técnico, não ia sequer entrar na próxima Copa? Quem pode duvidar? O Brasil não tem mais jeito?

     Pois é, ele não estava completamente errado. A chuva e o frio estavam fazendo falta no Rio? Mesmo batendo queixo, a gente sentia que ele tinha uma certa razão. O problema é que ninguém sabia exatamente se ele era um super-herói ou supervilão.

     A impressão era que não era ele que usava o poder, mas, sim, o poder que o usava. Discordava da direita, e a gente concordava; discordava da esquerda, não dos propósitos, mas das estratégias, e a gente fazia coro; discordava até da Marlene quando o povo vinha pedir conselho para ela, e, heresia!, a gente até que dava crédito para o que ele falava.

     Apesar da situação estar parecendo bem fora do controle, com o passar do ano, desconfiamos ter encontrado a sua kriptonita. É só alguém comentar as pesquisas eleitorais ou a corrida presidencial de 2026 que ele coloca a sua capa no cabide e proclamar: “Melhor deixar tudo como está, quem sou eu para reclamar? Quem sou eu?”

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